De acordo com Paulo Twiaschor, a inteligência artificial já não é mais exclusividade de setores técnicos e industriais — agora, ela entra com força total no território da criatividade, antes considerado exclusivamente humano. Com algoritmos de aprendizado profundo, redes neurais generativas e modelos linguísticos avançados, como os que geram imagens, músicas ou textos complexos, a IA passou a desempenhar tarefas que exigem não apenas lógica, mas também sensibilidade estética e narrativa.
Essa “invasão” da IA no domínio criativo levanta uma questão essencial: a criatividade pode ser replicada por máquinas ou ela ainda é um atributo essencialmente humano? Confira!
Quais profissões criativas estão sendo mais impactadas pela automação?
Designers gráficos, escritores, jornalistas, músicos e produtores de conteúdo digital estão entre os profissionais mais diretamente impactados pela automação criativa. Ferramentas como o Midjourney e o Adobe Firefly facilitam a criação de imagens com qualidade profissional a partir de comandos de texto. Na música, plataformas como AIVA e Soundraw conseguem compor trilhas inteiras com base em emoções ou estilos. Jornalistas enfrentam concorrência direta de algoritmos que redigem notícias simples com rapidez e precisão.
Apesar do temor da substituição, muitos profissionais têm adotado a IA como aliada, capaz de acelerar fluxos de trabalho e estimular novas ideias, pontua Paulo Twiaschor. Ferramentas baseadas em IA podem gerar esboços, conceitos ou versões iniciais de projetos, permitindo que o artista se concentre nos aspectos mais refinados e pessoais de sua obra. No design, por exemplo, a IA pode sugerir paletas de cores, criar variações de logotipos ou simular interações em interfaces.
Onde está o limite entre colaboração e substituição?
O desafio central não é tanto a presença da IA nas profissões criativas, mas o modo como ela é utilizada. Quando a tecnologia se torna protagonista, em vez de ferramenta, ocorre um deslocamento da autoria. Muitas empresas já produzem conteúdo sem nenhuma intervenção humana direta — sejam ilustrações, músicas de fundo ou notícias de última hora. Paulo Twiaschor explica que isso levanta questões importantes sobre os limites dessa automação.

A ideia de autoria, que há séculos garante identidade e reconhecimento ao trabalho artístico, está sendo profundamente abalada. Se uma IA gera uma pintura inspirada em Van Gogh ou compõe uma canção no estilo de Beethoven, quem é o autor? O programador que desenvolveu o algoritmo? O usuário que deu o comando? A própria IA? Leis de direitos autorais continuam longe de alcançar um consenso sobre criações assistidas ou produzidas por IA.
É possível ensinar sensibilidade artística a uma máquina?
Embora IAs modernas consigam reproduzir estilos, emoções e estruturas narrativas, há um consenso crescente de que elas ainda não “sentem” nem “compreendem” arte como os humanos. Elas operam por meio de padrões estatísticos, baseados em grandes volumes de dados, e suas criações são fruto de simulações — não de experiências, intenções ou emoções reais. A sensibilidade artística está intimamente ligada à vivência humana: às dores, alegrias, memórias e contextos culturais.
Segundo Paulo Twiaschor, uma música feita por IA pode soar comovente, mas falta-lhe a intencionalidade emocional que um compositor humano imprime. Isso não significa que IAs não possam criar arte valiosa, mas sim que a natureza dessa arte é distinta, talvez mais técnica do que verdadeiramente expressiva.
Por fim, além da questão da autoria, há preocupações éticas sérias envolvendo a apropriação indevida de estilos e trabalhos artísticos. Paulo Twiaschor frisa que muitos modelos de IA são treinados com obras protegidas por direitos autorais, sem consentimento dos autores originais. Isso levanta acusações de plágio e exploração. Outro problema é o uso da IA para manipular ou criar conteúdos falsos — como deepfakes, músicas póstumas “falsificadas” ou textos enganosos.
Autor: Leonid Stepanov